terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Hasta la victoria siempre


Ter certas conclusões boas ou ruins sobre Ernesto Guevara é uma questão muito particular. Mas a minha é que ele foi sim o grande "Che", um cara com um espírito voluntário, com um imenso desejo de liberdade não só a ele mas àqueles que estavam aprisionados sem se darem conta de tamanha crueldade; que não apenas em palavras deixou todo o seu conforto para se "aventurar" em uma longa viagem de 10 mil km acompanhado de um amigo, a qual lhe rendeu boas histórias pra contar, tornando a sua visão crítica mais aguçada e aumentando o desejo de agir para dar fim em tudo aquilo que achava errado; buscando bases para dar início a concretização de seus sonhos.


Uma das partes mais emocionantes do livro "De moto pela América do Sul - Diário de Viagem", que traz textos escritos pelo própio Che a partir de notas rascunhadas durante a longa viagem de 8 meses, é quando ele relata um acontecimento no Chile, na cidade de Valparaíso, em que ele, como médico, se compadece de uma mulher pobre e trabalhadora que está doente e vai até a sua casa medicá-la; ele diz o seguinte:

(...)Nestas circunstâncias, as pessoas de famílias pobres que não podem se sustentar são rodeadas por uma atmosfera de aspereza mal disfarçada, deixaram de ser pais, mães, irmãs ou irmãos para tornar-se apenas um fator negativo na luta pela sobrevivência e, por extensão, fonte de amarguras para os membros sadios da comunidade que se ressentem de sua doença como se fosse um insulto pessoal contra aqueles que tem de apoiá-los. É aí, no final, para as pessoas cujo horizontes nunca ultrapassam o dia da amanhã, que nós percebemos a profunda tragédia que circunscreve a vida do proletariado em todo o mundo. Nesses olhos moribundos existe um humilde apelo por perdão e também, muitas vezes, um pedido desesperado de consolação que se perde no vácuo, da mesma maneira como seu corpo desaparecerá logo em meio ao vasto mistério que nos cerca. Quanto tempo mais esta ordem atual, baseada na idéia absurda de classes sociais, vai durar eu não sei, mas é chegada a hora em que o governo gaste menos tempo propagando suas próprias virtudes e comece a gastar mais dinheiro, muito mais dinheiro, financiando projetos para a sociedade (...)"


Ps: É incrível como este discurso traduz a nossa época mesmo tendo sido escrito há décadas!

Che pode até ter sido um tanto exagerado na busca pela liberdade mas, a falta de objetivos concretos e ideais é algo que falta bastante em nossa geração alienada por falsos ideiais, embarcada em opiniões alheias!



Outro ponto bastante interessante do livro ( e até motivador! ) é o discurso feito por Alberto Granado, companheiro de viajem de Che Guevara, supostamente no momento em que eles se despedem:

"(...) O futuro pertence ao povo e, gradual ou subitamente, ele vai chegar ao poder, aqui e em todo mundo.
O problema [...] é que o povo deve ser educado, e isso não pode ser feito antes que ele tome o poder, só depois. Ele só pode aprender a partir de seus próprios erros e estes, serão muitos sérios e custarão muitas vidas inocentes. Ou talvez não, talvez essas vidas não sejam inocentes porque pertencem àqueles que cometem os maiores pecados 'contra natura'; em outras palavras, eles não tem habilidades para se adaptar - você ou eu, por exemplo, morrerão amaldiçoando o poder que ajudaram a fazer surgir com sacrifícios muitas vezes enormes. A revolução é impessoal, vai levar suas vidas e até mesmo utilizará suas memórias como um exemplo ou como intrumento para controlar os jovens que surgirem depois deles. Meu pecado é ainda maior porque eu, mais sutil ou mais experiente, chame do que quiser, vou morrer sabendo o que o meu sacrifício está fundado apenas na teimosia que simboiza nossa civilazação apodrecida e decadente. Eu sei também - e isso não mudará o curso da história ou mesmo sua impressão pessoal a meu respeito - que você morrerá com seu punho cerrado e sua mandíbula tensa, porque você não é um símbolo ( um exemplo inanimado ) mas sim um autêntico membro da sociedade que deve ser destruída; o espírito da colônia fala através da sua boca e move-se através de seus atos. Você é tão útil quanto eu, mas não percebe o quão útil é sua contribuição para a sociedade que o sacrifica (...)"

Ps: Ele tinha alguma bola de cristal ??

A coragem, perseverança e vontade de Ernesto Che Guevara o tornaram um ser humano admirável! Mas, você nunca tropeçou no caminho?... é, ele também! Mas, a atitude de se por no lugar do mais necessitado (repito: não apenas com palavras) é louvável!